FIV: Repouso depois da transferência de embrião é recomendável ou não?

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FIV: Repouso depois da transferência de embrião é recomendável ou não?

Artigo escrito por Filipa Calisto, doutorada em bioquímica


Desde o primeiro ciclo de fertilização in vitro (FIV) em 1978 que a ciência tem desenvolvido novas abordagens e novas técnicas de laboratório a fim de aumentar as taxas máximas de sucesso na tecnologia de reprodução medicamente assistida. No entanto, embora haja melhorias constantes nos protocolos e procedimentos de fertilização in vitro, ainda há incertezas sobre o tempo de repouso que os pacientes devem fazer após a transferência de embriões (etapa que procede um tratamento de fertilização in vitro e a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI)).

Nos primeiros tempos da fertilização in vitro, era recomendado às mulheres repouso prolongado após a transferência de embriões, normalmente 2 semanas. Esta recomendação, apesar de não ter evidências cientificas, era baseada na crença de que a redução da atividade física podia evitar o risco de expulsão do embrião [1].

A maioria das clínicas de fertilização in vitro em todo o mundo recomenda um período variável de repouso entre 10 minutos a 24h após a transferência de embriões [2]. No entanto, estudos clínicos recentes mostram que o repouso após uma fertilização in vitro não está associado a melhores resultados, ou seja, não influência a taxa de implantação, a taxa de gravidez em curso, a taxa de gravidez múltipla e nem a taxa de abortos [2,3]. Pelo contrário, há estudos que mostram que o período de repouso após a transferência e o período de repouso prolongado pode ter um efeito negativo na taxa de sucesso da transferência de embriões [4–7].

Alguns autores argumentam que anatomicamente o útero está numa posição horizontal quando uma mulher está de pé, não havendo perigo de expulsão do embrião por gravidade, e que o repouso prolongado (normalmente duas semanas) está associado à formação de coágulos sanguíneos e a um aumento dos níveis de ansiedade e stress [5,6]. A abstinência sexual também é muitas vezes recomendada após a transferência de embriões, no entanto não parece ter um efeito positivo na taxa de implantação e há estudos que sugerem que o liquido seminal interage com o endométrio e que pode facilitar a implantação do embrião [8,9].

Apesar da evidencia científica não recomendar nenhum período de repouso após a transferência de embriões, cada jornada de fertilidade é diferente e por isso é importante seguir todas as instruções dadas pela sua equipa médica. Eles conhecem melhor a sua jornada de fertilidade e podem dar conselhos relevantes para cada situação específica.

 

Referências

[1]         Edwards RG, Steptoe PC, Purdy JM. (1980) Establishing full-term human pregnancies using cleaving embryos grown in vitro. BJOG. 87, 737–56. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/j.1471-0528.1980.tb04610.x

[2]         Cozzolino M, Troiano G, Esencan E. (2019) Bed rest after an embryo transfer: a systematic review and meta-analysis. Arch. Gynecol. Obstet. 300, 1121–1130. https://link.springer.com/article/10.1007/s00404-019-05296-5

[3]         Abou-Setta AM, Peters LR, D’Angelo A, Sallam HN, Hart RJ, Al-Inany HG. (2014) Post-embryo transfer interventions for assisted reproduction technology cycles. Cochrane Database Syst. Rev. 8, CD006567. https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD006567.pub3/full

[4]         Küçük M. (2013) Bed rest after embryo transfer: is it harmful? Eur. J. Obstet. Gynecol. Reprod. Biol. 167, 123–126. https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0301211512005386

[5]         Gaikwad S, Garrido N, Cobo A, Pellicer A, Remohi J. (2013) Bed rest after embryo transfer negatively affects in vitro fertilization: a randomized controlled clinical trial. Fertil. Steril. 100, 729-735.e2. https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0015028213006092

[6]         Craciunas L, Tsampras N. (2016) Bed rest following embryo transfer might negatively affect the outcome of IVF/ICSI: a systematic review and meta-analysis. Hum. Fertil. 19, 16–22. https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.3109/14647273.2016.1148272

[7]         Penzias A, Bendikson K, Butts S, Coutifaris C, Falcone T, Fossum G, et al. (2017) Performing the embryo transfer: a guideline. Am. Soc. Reprod. Med. 107, 882–896. http://dx.doi.org/10.1016/j.fertnstert.2017.01.025

[8]         Crawford G, Ray A, Gudi A, Shah A, Homburg R. (2015) The role of seminal plasma for improved outcomes during in vitro fertilization treatment: review of the literature and meta-analysis. Hum. Reprod. Update. 21, 275–284. https://academic.oup.com/humupd/article/21/2/275/2952624

[9]         Saccone G, Di Spiezio Sardo A, Ciardulli A, Caissutti C, Spinelli M, Surbek D, et al. (2019) Effectiveness of seminal plasma in in vitro fertilisation treatment: a systematic review and meta-analysis. BJOG. 126, 220–225. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/1471-0528.15004

 


 

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