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A História da Margarida

Blog escrito por Margarida Campelo


Como tudo começou

Tudo começou quando, aos 12 anos e após umas férias de verão, a minha mãe me disse o que era o Síndrome de Turner que me tinha sido diagnosticado. Disse-me ainda que ia ser submetida a uma intervenção cirúrgica com o propósito de me serem retirados os ovários. “Sindro.. quê? e…Mãe… Mas se me vão tirar os ovários… Como é que vou conseguir ter filhos?” foi a minha primeira reação. Naquele instante o meu mundo desabou!!! Sempre tinha desejado ser mãe. Na altura não sabia bem como é que a medicina iria evoluir no sentido de me poder proporcionar soluções. Naquele momento, aquilo que me lembrei logo foi falar com uma tia-avó que, por razões de infertilidade, nunca tinha tido filhos. Ela ensinou-me que se podia viver feliz sem ter filhos e que, por esse motivo, tinha reinventado o seu propósito de vida. Nessa fase esta tia-avó foi uma grande inspiração para mim.

A minha maior dificuldade era saber, como, quando e até se deveria contar isto às pessoas à minha volta. Mais difícil ainda era pensar como, no futuro, iria abordar este assunto com quem entrasse na vida amorosa. Contudo, descobri que, quando há amizade e amor todos os defeitos se dissipam e que este assunto não teria de ser um entrave. Contudo foi assunto que me criou grande ansiedade. Com esse desconforto, próprio desta situação, sinto que em alguns casos, me precipitei ao revelar este assunto cedo demais.  No entanto, cresci de forma tranquila. Inicialmente criei certas barreiras utilizando sempre o humor como mecanismo de defesa. Se já é difícil falar de infertilidade entre adultos, imaginem na pré-adolescência! Felizmente consegui ir fazendo tudo aquilo que me propunha mesmo quando sentia maiores dificuldades.


Será que vou ser mãe?

Foi numa consulta de endocrinologia que, por volta dos 24 anos, tive a coragem de fazer “A” pergunta: “Afinal será possível eu conseguir ser mãe?” Na altura sabia muito pouco, mas, sentia-me já preparada para saber a resposta mesmo que o resultado não fosse animador. Assim começou a minha busca. Aprendi que o meu útero era funcional e pela primeira vez na vida, ouvi o termo “doação de óvulos”.

Uns tempos antes de casarmos, eu e o meu marido decidimos por razões profissionais, emigrar para Espanha (Madrid). Procurámos clínicas de fertilidade que nos ajudassem no nosso caso e qual não foi o nosso espanto quando encontrámos uma mesmo a 5 min de casa. Foi a escolhida. Fundamental para esta decisão, foi termos encontrado uma clínica com uma excelente equipa médica que nos acolheu, nos confortou e nos acompanhou, nos bons e menos bons momentos, com todo o profissionalismo.


O Tratamento de Fertilidade

O processo clinico começou com a execução de uma bateria de exames e análises. Logo que recebemos resultados favoráveis, informaram-nos que iriam começar a procura de uma dadora de óvulos. Esta consulta foi engraçada porque a escolha da dadora é bastante peculiar. Eu só disse: “Dra. pode ser parecida comigo?”. Outro aspeto interessante destas consultas iniciais foi o facto de nos perguntarem se queríamos escolher uma dadora do mesmo grupo sanguíneo ou abrir a todos. Se não quiséssemos contar ao nosso filho e se ele por acaso tivesse um grupo sanguíneo diferente do meu, poderia mais tarde vir a questionar o porquê. Decidimos então abrir a procura a todos os grupos sanguíneos pois tencionamos contar ao nosso filho quando ele tiver maturidade para entender.

Após um mês ligaram: Já tínhamos dadora! Iniciei o processo tomando as hormonas a fim de preparar o útero para receber o óvulo fecundado. A dificuldade nesta fase é o útero responder favoravelmente à medicação, o que por vezes não acontece. A cada dois dias ia à clínica para verificar a evolução. O mais desanimador é que muitas vezes saiamos da consulta com um útero pouco responsivo à medicação o que nos levava a provocar o ciclo todo de novo. Tudo isto leva muito tempo. Mas finalmente chegou o dia em que estava tudo a postos e pronto a receber o embrião: Transferência marcada lá fomos nós! Uma emoção! O processo consistiu em transferir o óvulo fecundado no útero através de uma agulha própria. Após a transferência recomendaram 24h de repouso e depois vida normal. O menos simpático foi o seguinte: Até sabermos o resultado tínhamos de esperar 15 dias! Agora imaginem: 15 dias para saber se o sonho da minha vida se teria concretizado. Passados os 15 dias fizemos o teste de gravidez através de análise de sangue.

 

Negativo! Grande abanão! Chamaram-nos para a consulta e a médica disse que tínhamos de começar a explorar mais profundamente e fazer mais testes. Foi particularmente duro pois tivemos muito receio que o meu marido apresentasse algum diagnóstico que nos impossibilitasse a utilização do seu esperma. Se assim fosse só nos restava a opção de doação dos dois gametas. Felizmente acabou por ficar tudo bem, mas no dia que tentámos a segunda transferência outro abanão: O embrião não tinha sobrevivido à descongelação da vitrificação a que tinha sido sujeito, ou seja: tínhamos de recomeçar tudo do princípio. Nesta fase para nós foi muito importante uma pausa, pois tudo isto desgasta física e psicologicamente. Quando nos sentimos fortes, recomeçámos tudo de novo. Desta vez, confesso, não consegui aguentar as recomendações do médico de esperar os 15 dias, mas fi-lo com muita consciência de que mesmo que viesse um negativo não poderia parar a medicação até vir o diagnostico no final dos 15 dias. Mas não resisti e fiz o teste de urina aos 10 dias e aos 12! Lá estavam as minhas confirmações e o resultado de uma vida de espera e 3 anos de tratamento: o meu positivo. A médica vibrou tanto como nós e ficou muito feliz! A ecografia mais emocionante eu diria que foi quando ouvimos o coração do nosso bebé pela primeira vez!


A Gravidez

A minha gravidez aconteceu muito tranquilamente, após 9 semanas acompanhada pela clínica de fertilidade, deram-me alta e fiz o acompanhamento normal e nunca tive nenhum susto ou complicação! 9 meses depois, nasceu o meu filho Santiago!

Esta é a minha história. Felizmente e, apesar dos contratempos aquilo porque passei acabou num final feliz. Contudo, isto às vezes não acontece e acredito mesmo que a maneira de ultrapassar as dificuldades da infertilidade é aceitar que elas vão acontecer e imaginar planos de vida alternativos. Também é muito importante munir-nos de energia positiva para que ela não nos defina: Já viram o enorme mundo de coisas que somos sem ser férteis? Mas, por vezes, não é fácil. Vai acontecer querermos desistir. Isso é muito normal. Deixem isso surgir e trabalhem-no, saberão o vosso limite. Acreditem! Eu própria caí na tentação de achar que não ia ser capaz devido às complicações do meu Síndrome. O mais importante aqui é saber filtrar informação e procurar apoios na nossa vida. São eles que nos ajudem a encontrar esse mundo de coisas boas que somos e principalmente se as dificuldades nos abrumarem termos a coragem para procurar apoio emocional profissional e deixarmos que nos cuidem. Encontrar outros casais que também tenham alguma experiência ajuda pois podemos encontrar neles a empatia que não encontramos noutros casais. Volto aqui a frisar a importância do acompanhamento medico. É muito importante pois se tivermos ao nosso lado uma boa equipa medica, eles saberão orientar-vos melhor que ninguém pois eles são quem vos conhece e sabe o vosso historial. Cada história é uma história e todas contam com as suas particularidades e vicissitudes e por isso o melhor mesmo é aproveitarmos a nossa individualidade e riqueza!


 

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